Coelho, Carlos; Prudente, Cristiane
CEMIG
Estudos indicam que a urbanização modifica o clima com mudanças significativas no parâmetro da temperatura além da possibilidade de modificações no comportamento das precipitações. Em grandes cidades como Belo Horizonte, o cotidiano humano é influenciado diretamente por eventos extremos como as precipitações de chuva, causando danos e transtornos às vezes irreparáveis. Diversos estudos vêm sendo desenvolvidos no sentido de melhor compreender o comportamento das chuvas, no tempo e no espaço. Estes estudos são de grande importância para a hidrologia com vista à análise e previsão de eventos extremos, necessários em estudos de engenharia, seja para controle de escoamento superficial em áreas urbanas e rurais, seja para projetos de controle de cheias em reservatórios. Empresas como a Cemig têm interesse direto no entendimento dessas chuvas, pois permite, além de alimentar seus modelos hidrológicos, controlar e regular as vazões, evitando danos à própria usina, à geração de energia, às regiões a jusante e às cidades ribeirinhas.
Este estudo tem como objetivo analisar um evento de chuva intensa ocorrido na cidade de Belo Horizonte no dia 31 de dezembro de 2008, quando a cidade foi atingida por um forte temporal com picos de até 42 mm de chuva por hora. O sistema de escoamento não suportou tal vazão e fez com que o ribeirão que corta a cidade saísse de sua calha, deixando vários bairros alagados com diversos prejuízos materiais. Utilizaram-se dados de precipitação com intervalos de 45 minutos de uma estação automática da CEMIG. Foram desenvolvidas análise climática com imagens de satélites, mapa de isoieta, além dos parâmetros de velocidade do vento e pressão atmosférica para melhor compreensão do fenômeno. Os resultados demonstraram um sistema convectivo de larga escala (linha de instabilidade) que se formou no sul do estado e que se prolongou até a região central, ocupando uma área de aproximadamente 200.000 km². A primeira região em Belo Horizonte atingida pelo sistema foi a que mais sofreu com as conseqüências, deixando entender a influência das diferenças espaciais de umidade disponível para a origem e continuidade das ocorrências de precipitações intensas. Outro fator é inerente ao próprio traçado e à conformação espacial do mapa das isoietas, que reflete a influência orográfica sobre a intensificação dos eventos de precipitação, o prolongamento da serra do Curral na região do Barreiro, além do uso e ocupação do solo, que é determinante para o escoamento das águas pluviais.
Este fenômeno demonstra o grande desafio para os profissionais em hidrologia e meteorologia que não é simplesmente quantificar o efeito de um evento hidrológico, seja extremo ou não, mas sim a capacidade de prever estes eventos e suas conseqüências para os diversos usos da forma mais fiel e real possível.
